quarta-feira, 23 de março de 2016

A MULHER E O HOMEM DA CASA



A mulher tem mais oportunidades de entender ao homem do que o contrário – ou pelo menos deveria ter. A mulher não deixa de ser mulher ao trabalhar e desenvolver-se numa carreira, por exemplo. Ela pode ser profissional, esposa, mãe, e ainda dedicar algum tempo que sobra aos cuidados básicos que uma casa requer. Já o homem, raramente permite-se a inversão de papéis onde a mulher trabalhe e seja provedora enquanto ele cuida da casa. Quando acontece, é circunstancialmente e por algum tempo. Orgulho masculino ou cobrança social? Este tipo de compreensão e valorização do outro nem sempre se equilibra. Cada um tende a cobrar conforme os próprios valores. 



Um homem doméstico pode entender a mulher doméstica, assim como a mulher provedora entende o homem provedor. As preocupações de quem cuida do que foi provido são diferentes daquelas de quem provém. Quando homem e mulher conhecem os dois lados, ambos valorizam o que cada um faz. Não há cobranças injustas ao provedor, do tipo: — Você só pensa em trabalho! – Ou: — Você não faz nada! – a quem fica cuidando da casa. Nos últimos cinquenta anos, tornou-se comum a mulher acumular os dois papéis. Há homens que cobrem a presença maior da mulher em casa, e há os que prefiram que ela deixe os cuidados domésticos para ir ganhar dinheiro, realizar-se ou somar à renda familiar, ignorando que a realização de algumas mulheres ainda pode estar justamente no lar. 



E ao homem? Caberá o direito de realizar-se cuidando da casa? – O homem doméstico acumula funções. Além de limpar, lavar, passar, arrumar, cozinhar, administrar a dispensa e fazer compras, também conserta, engendra-se em trabalhos de encanador, eletricista, pedreiro, pintor, instalador, mecânico, restaurador etc. Trabalhos que geralmente são valorizados quando ninguém mais os fez, e passam a fazer parte da lista de tarefas domésticas. Tudo visando manter a casa organizada e pronta para funcionar quando todos precisam. Na prática, ele é o homem da casa. Embora no conceito social, o homem da casa seja quem põe o dinheiro e paga as contas.




Sensação tão boa quanto chegar em casa e ter tudo arrumado, limpo e organizado, é o reconhecimento por quem a arrumou, limpou e organizou. O mesmo reconhecimento que se tem por quem paga as contas e não precisa pagar por esses serviços. 


A dinâmica de um lar é mais complexa do que as praxes preconceituosas e cobranças sociais de sucesso, realização e felicidade. É preciso dinheiro para tudo, mas ele não é tudo, pois a realização pessoal pode diferir de uma pessoa para outra. Felizes os cozinheiros, faxineiros, caseiros e demais empregados domésticos que fazem o que gostam e gostam do que fazem. Houve tempo em que não era preciso muito para pagar por eles. Felizes as donas (e donos) de casa que, exceto em caso de necessidade, não são pressionados a serem mais do que isso. Tudo isso.

Gutto Carrer Lima



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