segunda-feira, 7 de setembro de 2015

QUERO EXISTIR SEM A INTERNET !

A viagem dentro de si mesmo pode acontecer justamente quando não há outra opção.


 QUERO EXISTIR SEM INTERNET !


Existe o antes e depois das redes sociais, e isto não é surpresa para qualquer um que entra nela, seja qual for a atuação ou expectativas que se tenha na experimentação deste mundo paralelo que se revela a cada login. 

Os anos de 2008 e 2009 foram especialmente diferentes para mim, por ter vivido no campo longe de tudo o que até então eu havia sentido como vida e presença no mundo. A experiência da solitude foi real, muito antes de eu ler a posts e artigos a respeito. Somente em 2012 fui pego pelos fascínios das conexões, facebook e blogs.

Dou graças a Deus por não ter tido, no campo, a possibilidade de conectar internet, porque conectando eu não teria ouvido o que somente o silêncio foi capaz de me fazer ouvir, e o que a ausência de distrações me permitiram ver: os ruídos interiores e o maior conhecimento de mim mesmo.

Passados três anos, me entretendo, trabalhando e escrevendo na mídia social, a possibilidade de ruptura com o mundo externo é cada vez mais difícil. Cada minuto do dia convida e conspira a olhar para fora e não para dentro. Não bastasse o computador, a facilidade está no celular. A velha fama da TV em nos distrair não é nada comparada com as possibilidades da internet. Basta um deslizar de dedos ou mouse, e o mundo se abre, nem sempre mostrando o que eu gostaria de ver, mas também me trazendo informação e afinidades.

Como interiorizar, diante de tamanha facilidade de fuga? Como sentir o mundo real em volta, seus movimentos, suas cores, sons, cheiros e até o tempo, sem desconectar-se? E como desconectar-se sem sentir o vazio, que aprendemos a preencher com as interações virtuais?

O fato é que "entrar na internet" nos dá a sensação de estarmos no mundo. Fora dela, é como se o mundo girasse sem a gente. Isto não pode estar certo. É totalmente contrário aos ensinamentos sobre plenitude existencial que vemos, na internet inclusive, e com os quais nos maravilhamos. Alguma atitude está faltando. Lemos, gostamos e compartilhamos sem antes experimentar o que foi lido. A vida vai se parecendo com um filme, como se fosse suficiente vivermos o que assistimos por um breve instante seguido de outro. Muitos roteiros e pouquíssima ação, até porque o consumo dos roteiros não nos deixa tempo para agir.

De nada vale adquirir conhecimento e não aplica-lo. A viagem dentro de si mesmo pode acontecer justamente quando não há outra opção. Será preciso escolher, entre a intensidade das mil possibilidades nas masturbações existenciais online, e o êxtase sereno e verdadeiro de um caminho trilhado no passo-a-passo das definições conscientes que levem a um resultado palpável, sólido, visível, real, vivido e duradouro. 

Quero existir, sem a internet! Afinal, ela deve existir para nós, e não nós para ela.



© Gutto Carrer Lima 

OBS: Não defendo que deveríamos esquecer tudo de bom que a internet nos proporciona. Apenas sinto falta de SER, como já foi possível ser, sem ela. O mundo não voltará a ser como antes, e nós também não. Estamos mergulhados num vício coletivo.







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